Pela primeira vez na história, chegamos a uma situação em que nosso planeta abriga mais pessoas obesas do que malnutridas. Atualmente, mais de 1.9 bilhões de adultos no mundo têm sobrepeso. Desses 650 milhões são obesos. A prevalência mundial de obesidade praticamente triplicou desde 1976.
A obesidade é definida como um acúmulo excessivo de gordura corporal que traz prejuízos à saúde. Ela pode ser estimada através do índice de Massa Corpórea (IMC) , que é definida através da divisão do peso pelo quadrado da altura (calcule o seu IMC). Quando o IMC é maior que 25, classificamos como sobrepeso. Quando o IMC ultrapassa os 30, chegamos à obesidade.
Porque engordamos tanto assim nas últimas décadas?
Em sua forma mais básica, a obesidade parece simples: o consumo de calorias superando o gasto energético. Baseado nesse conceito, grande parte das pessoas enxergam a obesidade como resultado de decisões pessoais negativas, associado a autoindulgência, preguiça e falta de força de vontade.
No entanto, existem muitas evidências de que o desenvolvimento da obesidade envolve processos muito mais complexos que o simples acúmulo passivo de calorias. Fundamentalmente nos tornamos, através da evolução da nossa espécie, ótimos poupadores de calorias. E isso faz bastante sentido. Durante milênios vivemos em um ambiente de dieta primitiva, tendo que conviver com uma oferta alimentar escassa. Assim defender a gordura corporal de forma eficiente foi um importante fator de sobrevivência.
No entanto, há algumas décadas nosso organismo tem sido exposto a um tipo de dieta moderna, baseada em alimentos refinados e ultraprocessados, com características muito diferentes. Primeiro, seus principais ingredientes (óleos, gorduras, açucares, sal, farinha e amidos) os tornam ricos em gordura total, saturada ou gordura trans, açúcares e sódio, com uma densidade energética muito maior que alimentos minimamente processados. Além disso, são atraentes, hiperpalatáveis e oferecidos em quantidades virtualmente ilimitadas. Esse conjunto de características favorece um consumo de calorias muito grande. E a princípio nosso organismo considera isso ótimo, armazenando grande parte desse excesso que é consumido. Enquanto nossa capacidade de aumentar nosso apetite e acumular o máximo de reserva possível é uma adaptação extremamente útil em um ambiente com escassez de alimentos, essa característica se torna um desastre em um ambiente com abundância de alimentos processados e refinados. Nosso organismo está armazenando reservas de gordura para se proteger de um período de fome que nunca vem. Assim entendemos que o aumento do peso das pessoas ao redor do mundo muitas vezes se deve a uma resposta normal, de uma pessoa normal, a um ambiente doente.
No entanto, a obesidade estabelecida é uma doença crônica que ocasiona impactos negativos profundos na nossa saúde. Pessoas com obesidade têm maior chance de ter várias outras doenças associadas, que podem deteriorar nossa qualidade de vida e, em casos extremos, levar a morte precoce. Diante desse cenário destaca-se 2 desafios: tratar aqueles com obesidade já estabelecida e prevenir que outras pessoas apresentem ganho de peso excessivo.