Em uma definição simples, a cirurgia metabólica pode ser considerada aquela para
pacientes com menor peso (IMC entre 30-35) e com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) de
difícil controle. Essa indicação de cirurgia foi aprovada pelo Conselho Federal de
Medicina (CFM) como opção terapêutica em 2017.
No entanto, o conceito de Cirurgia Metabólica pode ser muito mais amplo e diz
respeito à forma como entendemos a própria obesidade atualmente. Por muito tempo
se acreditou que a obesidade era a consequência apenas de maus hábitos, e que as
pessoas eram obesas simplesmente porque comiam demais. Dessa interpretação
surgiram os primeiros pilares da cirurgia bariátrica, baseados na restrição mecânica e
na má-absorção. O pensamento era simples: já que as pessoas comem demais,
devemos criar mecanismos para impedir a ingesta alimentar ou para não absorver o
que foi ingerido. Esses modelos de cirurgia, apesar de levar a perda de peso, o faziam
através da geração de novas doenças e com muitos efeitos colaterais associados:
vômitos, entalos, diarréia e por vezes até desnutrição.
A compreensão sobre a fisiopatologia da obesidade apresentou grande evolução. Hoje
sabemos que a obesidade estabelecida é consequência de uma profunda disfunção
metabólica entre os hormônios e sinalizadores que regulam a fome, a saciedade e o
gasto energético. Boa parte desses sinalizadores são produzidos pelo intestino, e nos
indivíduos com obesidade, a parte proximal do intestino apresenta uma hiperatividade,
enquanto a parte distal do intestino, em que se encontram a maior parte das células
produtoras desses hormônios, uma hipoatividade. Esse desbalanceamento da
atividade intestinal é um ponto central para a gênese e perpetuação da obesidade.
Uma vez que passamos a entender a obesidade como uma disfunção metabólica e não
apenas como fruto de maus hábitos, o tratamento cirúrgico para obesidade também
foi capaz de evoluir muito. Atualmente buscamos, com as alterações da anatomia
intestinal, restabelecer o equilíbrio desses sinalizadores de fome e saciedade, com uma
liberação precoce e abundante dos hormônios produzidos pela parte distal do
intestino. Assim nasce o conceito de cirurgia metabólica, em que o peso não é mais a
questão central a ser tratada com a cirurgia, mas sim restabelecer o pleno
funcionamento do metabolismo energético.
Mesmo modelos de cirurgia clássica, como o bypass gástrico, sofreram adaptações à
luz desses conhecimentos, em busca de otimizar resultados e reduzir efeitos colaterais.
Mas existem procedimentos que foram desenhados especificamente para buscar esse
novo equilíbrio metabólico, e evitar a restrição mecânica e a má absorção.
A seguir, alguns exemplos de modelos de cirurgia que já nasceram com o intuito de
serem metabólicos.